quarta-feira, 24 de março de 2010

A campanha da fraternidade 2010

A campanha da fraternidade deste ano promovida pela igreja católica tem a curiosa intenção de combater a idolatria ao dinheiro. O culto ao dinheiro é, como todos sabemos, um dos aspectos mais fortes da ideologia burguesa. O conceito de riqueza pressupõe a idéia de acúmulo de capital. A prática do acúmulo excessivo leva inevitavelmente a um padrão alto de egoísmo individualista. O individualismo burguês pressupõe a idéia de acúmulo de capital em sua forma dinheiro, pois é a partir dele que se cria a prosperidade. Teologia da Prosperidade é, aliás, o nome da nova onda ideológica presente entre as seitas protestantes (evangélicos) que surgem e espalham-se de forma rápida. Nesta curiosa teologia a fé é medida a partir do acúmulo de dinheiro e a função dela é trazer ganho pecuniário ao fiel. Uma curiosa concepção bem distante de um famoso dito de Cristo: "é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus". Não há dúvidas de que a atual campanha da Igreja é uma resposta à Teologia da Prosperidade. Ao bater contra o acúmulo de capital e sua idolatria a Igreja Católica quer derrotar uma concepção que tem tirado-lhe muitos fiéis. Pode-se afirmar que a campanha veio em boa hora: O Brasil inteiro ficou chocado ao ver pela TV políticos evangélicos agradecendo a Deus em oração o produto ganho através da corrupção. Este caso mostra o claro limite extremo da Teologia da Prosperidade: passa-se a justificar o ganho monetário a qualquer custo, o que leva ao roubo e à corrupção.
A atual campanha da Igreja é resultado de um renascimento da Teologia da Libertação? Esta concepção foi hegemônica entre os membros da Igreja nos anos 70, 80 e até meados dos anos 90. Uma concepção teológica que abriu um processo de crítica e combate ao capitalismo gerando no seio da Igreja muitos lutadores pelo socialismo entre leigos e padres. Tal teologia diminuiu consideravelmente sua influência nos últimos anos graças às perseguições internas efetuadas pelo Papa João Paulo II e seu assessor pessoal (e atual Papa) Ratzinger. É claro que os seguidores da Teologia da Libertação sentem-se à vontade com a atual campanha da fraternidade, mas a asua crítica ao modo de produção capitalista é muito mais radical do que a crítica do culto ao dinheiro. Os grupos de fanáticos carismáticos que se espalham pelo Brasil poderão no máximo promover críticas emocionais ( e muitas vezes hipócritas) ao acúmulo de dinheiro e não uma reflexão mais profunda sobre o sistema capitalista como um todo, como fazem os teólogos da libertação.
Como será dirigida por grupos não ligados à Teologia da Libertação a campanha da fraternidade terá limites claros: sua crítica ao acúmulo de capital será emocional e despolitizada, sem uma reflexão profunda sobre o que gera o culto ao dinheiro, como resultado a campanha será esquecida pelos leigos após sua finalização; sem essa reflexão profunda os membros da Igreja ficarão sem conhecer o verdadeiro caráter da Teologia da Prosperidade que é a de ser um subproduto ideológico do neoliberalismo, corrente hegemônica entre os defensores do sistema capitalista mundial hoje. O neoliberalismo (que é chamado de "monetarismo" entre os seus seguidores) promove desde a década de 80 uma luta ideológica contra os valores de igualdade e solidariedade e valoriza o extremo individualismo egoista e o acúmulo de capital. Combater de forma correta o culto ao dinheiro será combater o capitalismo e o neoliberalismo. Os seguidores da Teologia da Libertação fazem assim, os carismáticos vão fazê-lo?
Uma outra questão: a crítica do culto ao dinheiro não pode deixar de compreender que ele só é cultuado porque tem uma utilidade. Acumula-se dinheiro para que se possa comprar mercadorias. Dentro do sistema capitalista a única forma de se ter acesso às mercadorias é através do dinheiro e é o consumo de tais mercadorias a fonte prática do culto monetário. Uma crítica ao consumismo desenfreado traria mais "dividendos" reflexivos (políticos, teológicos, ecológicos, etc.) do que a crítica do culto ao dinheiro. A Teologia da Prosperidade não passa de um materialismo burguês do pior calibre: pedir a Jesus dinheiro para comprar mais produtos e ser mais feliz. A crítica ao consumismo é uma pancada mais forte em seus pressupostos.
Apesar de seus limites esta campanha da fraternidade abre boas perspectivas para criarmos um processo de reflexão e crítica ao sistema capitalista. Inclusive para provocar nos cristãos católicos uma reflexão sobre o porquê do Papa Ratzinger apoiar ostensivamente as forças do capitalismo mundial, promotoras do culto ao dinheiro, e combater as forças socialistas, inclusive dentro da Igreja, promotoras da crítica radical ao capitalismo e ao dinheiro. A campanha pode, inclusive, ajudar a Teologia da Libertação a sair do limbo a que foi submetida por Ratzinger. Nem é preciso lembrar que é tarefa fundamental para quem sonha e luta por uma nova sociedade socialista e solidária combater a Teologia da Prosperidade, um misto de fanatismo imbecil e podridão ideológica burguesa.

Aristóteles Lima Santana, 23/03/2010.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

OS CONCURSADOS, O HOSPITAL E A POLÍTICA EM PA.

OS CONCURSADOS, O HOSPITAL E A POLÍTICA EM PA

Duas notícias abalaram a cidade de Paulo Afonso nos últimos dias: a primeira foi a vitória em segunda instância dos concursados contra a prefeitura municipal e, evidentemente, sobre os interesses do prefeito Anilton Bastos; a segunda foi a transferência do Hospital Nair Alves de Souza para o Estado da Bahia. A vitória dos concursados já era esperada. Toda a argumentação contrária não passa de falácia de quem quer fazer da prefeitura um cabide de empregos, os concursados estão bem amparados na legalidade do concurso. Apesar disso Anilton anunciou que vai recorrer na terceira instância. Será derrotado novamente mas entre esta e a próxima derrota não pretende chamar ninguém (embora no resultado do processo esteja claro que ele tem que convocar os concursados). Recorrer para quê tendo em vista uma derrota certa? Talvez para justificar aos seus seguidores que está tentando evitar o inevitável, para não perder mais votos, para tentar garantir apoios, para não prejudicar a campanha de Luis de Deus a deputado. Mas o tiro pode sair pela culatra. A próxima derrota inevitável (é raríssimo alguém perder na primeira e segunda instância e vencer na terceira, nesse caso impossível devido à absoluta legalidade do concurso) poderá gerar entre os seguidores de Luis de Deus um sentimento de revolta que poderá prejudicá-lo eleitoralmente na cidade. Frases como: “eles não se mobilizaram politicamente o suficiente para nos defender” ou “se não temos mais cargos na prefeitura para quê votar nele?” poderão ser ouvidas nos próximos meses. Como a popularidade de Anilton é zero entre os concursados ele terá 1800 pessoas com ódio dele e do seu chefe trabalhando na prefeitura. Bater de frente nos concursados foi pior. Eles poderão pagar caro por esse erro.
Fazendo uma comparação entre este mandato de Anilton e o anterior na década de 90 dá para perceber que ele deu muita sorte na primeira gestão, o que ajudou a construir o mito em torno dele como administrador competente. Ele recebeu a prefeitura de um aliado (Luis de Deus), que evidentemente não deixou para ele nenhuma “batata quente” política ou administrativa, e passou-a para um aliado (Paulo de Deus), que tratou de não expor o resultado de seus quatro anos de gastança. Desta vez ele recebeu a prefeitura de um adversário e em uma conjuntura estadual e nacional muito diferente. Os seus opositores não ficaram muito desestimulados com a derrota de Caíres e o movimento dos concursados desgastou-o consideravelmente. Na verdade ainda está na memória a vitória de Caíres em 2004. Foi a prova de que o grupo de Luis de Deus podia ser derrotado. Esta lembrança será um fantasma que irá acompanhá-los no mínimo até a próxima eleição para prefeito.
A passagem do hospital da CHESF para o Estado da Bahia foi uma saída melhor do que sua privatização. Daí a Cezar o que é de Cezar, Lula não eliminou o processo de desmonte do Estado federal iniciado por FHC, mas pelo menos diminuiu seu ritmo e procurou, neste caso ao menos, uma alternativa em que o órgão permanecesse público. Alguns políticos pauloafonsinos que hoje protestam contra esse processo são os mesmos que em passado recente apoiavam FHC e defendiam as privatizações irresponsáveis do seu governo, inclusive propondo a privatização do hospital da CHESF. Todos estão com medo porque conhecem a situação da saúde pública em toda a Bahia e no Brasil, mas isso só será resolvido com a reversão completa das políticas neoliberais. Ou seja, com a reversão das políticas que os “Democratas” (sic) defendem desde que usavam o nome de PFL.

Aristóteles Lima Santana.