segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O ENEM É REALMENTE BOM?


Enem e a ditadura dos rankings

Professora da USP critica a utilização indiscriminada de exames para avaliar a qualidade da educação

TAGS: Enem, Ranking

“Acredita-se em um poder mítico dos números e esquece-se que o ensino tem objetivos que não são passíveis de mensuração quantitativa”, afirma Cristiane Gottschalk, doutora em filosofia da educação e professora da Universidade de São Paulo. Além do alto número de rankings que procuram medir a qualidade de escolas e universidades, Gottschalk comenta a recente polêmica sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a promoção de instituições de ensino com base no resultado da prova.

Existe na sociedade uma neurose em torno de rankings universitários e escolares?

Sem dúvida. Existe uma pressão crescente da economia mundial sobre os sistemas educacionais para que sejam determinados os níveis de eficiência das escolas e universidades. Um dos resultados são esses rankings que têm ocupado as manchetes, como se fossem descrições precisas do grau de eficiência das instituições. A avaliação de um aluno da escola básica não pode se reduzir a um número aferido por provas de disciplinas específicas, como matemática e português. Do mesmo modo, a pesquisa na universidade transcende a quantidade de artigos publicados em revistas especializadas.

Há fatores que não podem ser mensurados, mas são determinantes?

Além de serem determinantes, são condições de aprendizado, como a transmissão de princípios e procedimentos que são ensinados muitas vezes de modo tácito. Técnicas de memorização, modos de comparar e organizar fenômenos, diferentes formas de raciocínio (indutivo, analógico e dedutivo)… Há uma gama ilimitada de “fatores” não passíveis de serem mensurados em curto prazo.

O Enem é mais usado para a promoção dos colégios do que para a análise do ensino no país?

Sim. Mas, além desse uso perverso do Enem, que esconde interesses privados, gostaria de ressaltar outro equívoco. O exame está fundamentado em uma teoria pedagógica específica, denominada “pedagogia das competências”. Essa concepção tem como norte o desenvolvimento já na escola de competências exigidas pelo mercado de trabalho. Mais preocupante é que o governo tem anunciado o propósito de utilizar o Enem como modelo para o currículo do ensino médio, induzindo, assim, todas as escolas públicas a adotarem uma única metodologia de ensino. A escola perde sua autonomia e os professores passam a ser meros executores de orientações pedagógicas vindas de cima.

FONTE: Revista Cult.

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