sexta-feira, 27 de abril de 2012

CRÍTICAS ÀS REDES SOCIAIS


Redes sociais enfrentam onda de ceticismo e críticas
7 de fevereiro de 2011 Jarbas Aragão
A maneira como as pessoas se comunicam freneticamente online usando Twitter, Facebook e mensagens instantâneas pode ser visto como uma forma de loucura moderna, segundo uma importante socióloga norte-americana.
“Um comportamento que se tornou comum e ainda é capaz de expressar os problemas que no passado nos levaram a vê-lo como patológico”, escreveu a professora Sherry Turkle, do MIT, em seu novo livro, Alone Together [Sozinhos Juntos]. Ela lidera um ataque à chamada “era da informação” e seu livro causou furor nos EUA, onde foi entrevistada em talk shows conhecidos. Um dos fatos destacados por ela é pessoas usarem smartphones durante funerais.
A tese de Turkle é simples: a tecnologia está ameaçando dominar as nossas vidas e nos tornar menos humanos. Mesmo proporcionando a ilusão que vamos nos comunicar melhor, a tecnologia acaba nos isolando das interações humanas reais. Ela nos coloca em uma realidade virtual, que é nada mais é que uma imitação medíocre do mundo real.
No entanto, o livro de Turkle não é o único a falar disso. Um movimento de retaliação nos EUA está advogando uma rejeição de alguns dos valores e métodos da comunicação moderna.  “É um grande retrocesso. Os diferentes tipos de comunicação usados pelas pessoas tornaram-se em algo assustador”, disse o professor William Kist, especialista em educação da Universidade Estadual de Kent, em Ohio.
A lista de ataques às mídias sociais é longa e vem de todos os cantos do mundo acadêmico e da cultura popular. Em um recente best-seller norte-americano, The Shallows [Os Superficiais], Nicholas Carr sugeriu que a maneira como usamos a internet está mudando o nosso modo de pensar, a ponto de nos tornar menos capazes de absorver informações mais extensas e complexas, como as de livros e artigos de revistas. O livro baseou-se em um texto que o pesquisador escreveu na revista Atlantic. O artigo, igualmente enfático, tinha como título: “O Google está nos deixando idiotas?”
Outra linha de pensamento na área de ciberceticismo é vista em The Net Delusion [A Ilusão da Rede], de Evgeny Morozov. Ele defende que as mídias sociais produziram uma geração de ativistas passivos, ou “passivistas”. Elas deixaram as pessoas preguiçosas e criaram a ilusão de que clicar o mouse é uma forma de ativismo semelhante a doar dinheiro e tempo no mundo real.
Outros livros sobre o tema são The Dumbest Generation [A Geração Mais Idiota], de Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory – onde ele defende que “o futuro intelectual dos EUA é sombrio” e We Have Met The Enemy [Nós Encontramos o Inimigo], de Daniel Akst, que descreve os problemas de autocontrole no mundo moderno, onde a proliferação de ferramentas de comunicação acabam sendo um elemento essencial.
Esse movimento de retaliação tem atravessado o Oceano Atlântico. Em Cyburbia, publicado na Inglaterra no an passado, James Harkin pesquisou o mundo tecnológico moderno e encontrou algumas possibilidades perigosas. Embora Harkin não seja um cibercético puro, ele encontrou muitos motivos para ficar preocupado, mas também satisfeito com essa nova era tecnológica. Por outro lado, o bem-sucedido filme A Rede Social é visto como um ataque velado a essa “geração das mídias sociais”, ao sugerir que o Facebook foi criado por pessoas que não conseguem se encaixar no mundo real.
O livro de Turkle, contudo, é o que tem gerado mais polêmica. É um desafio para deixarmos o smartphone fora do nosso alcance e ignorarmos o Facebook e não acessar o Twitter. “Nós inventamos tecnologias inspiradoras e sofisticadas, mas ao mesmo tempo permitimos que elas nos diminuíssem”, escreveu ela.
Outros críticos apontam para inúmeros incidentes para reforçar sua argumentação. Recentemente, a cobertura da mídia sobre a morte de Simone Back, moradora da cidade de Brighton,  mostrou que a mensagem de suicídio que ela postou no Facebook, foi vista por muitos de seus 1.048 “amigos” no site. Porém, nenhum deles pediu ajuda ou fez algo a respeito. Ao invés disso ficaram trocaram insultos através do mural do Facebook de Simone.
Porém, a retaliação produziu outra retaliação, e muitos passaram a defender as mídias sociais. Eles afirmam que o e-mail, o Twitter e o Facebook têm gerado mais comunicação, não menos – especialmente entre as pessoas que podem ter dificuldade em se encontrar no mundo real por causa de grandes distâncias ou diferenças sociais.
Defensores dizem que as redes são apenas uma forma diferente de comunicação e que algumas pessoas podem ter problemas para se acostumar. ”Quando você entra em uma ambiente e todo mundo está em silêncio diante do seu laptop, entendo que ela quer dizer sobre não quererem falar com outras pessoa”, disse Kist. ”Mas eles ainda estão se comunicando. Por isso discordo dela. Não acho que é uma questão tão preto no branco.”
Alguns especialistas acreditam que o debate tornou-se tão intenso porque as redes sociais são um campo novo, que ainda precisa desenvolver regras e uma etiqueta que todos possam respeitar. “Vamos ter de enfrentar isso. Não vejo nenhum sinal que as pessoas querem se desconectar”, disse Kist.
Ele também ressaltou que o “mundo real” a que muitos críticos das mídias sociais se referem, nunca existiu de fato. Antes que as pessoas viajassem de ônibus ou de trem com a cabeça enfiada na tela de um iPad ou de um smartphone, elas geralmente viajavam em silêncio. “Não víamos as pessoas conversando espontaneamente com estranhos. Elas simplesmente ficavam isoladas”, finalizou.
Fonte: The Guardian. Tradução e edição: Agência Pavanews

quinta-feira, 12 de abril de 2012

CONSUMISMO E LEITURA NO BRASIL


Brasileiro consome mais, mas lê menos

Por Eduardo Simões em 03/04/2012 na edição 688

Reproduzido do Valor Econômico, 29/3/2012; intertítulos do OI

Os índices de leitura e os números do mercado editorial no Brasil estão em descompasso. Divulgada na quarta-feira (28/3) em Brasília, a terceira edição da pesquisa “Retratos da Leitura”, do Instituto Pró-Livro (IPL) e Ibope Inteligência, aponta que houve uma diminuição na taxa média anual de leitura do brasileiro. Em 2007, o índice era de 4,7 livros por pessoa, ao ano. Segundo o novo estudo, feito entre junho e julho de 2011, com 5 mil pessoas, em 315 municípios, a média atual é de 4 títulos. Apesar da queda, Karine Pansa, presidente do IPL e da Câmara Brasileira do Livro (CBL), considera positivos os resultados “porque a pesquisa teve sua metodologia e acuidade aprimoradas”.

O estudo mostra que, quando comparamos o acesso a livros comprados, emprestados ou presenteados, houve um aumento na aquisição, de 45% em 2007 para 48% em 2011. De acordo com o mais recente levantamento da CBL e da Federação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), entre 2009 e 2010 houve crescimento de 2,63% no faturamento das editoras. É preciso salientar que apenas 141 das 498 editoras atuantes no país – segundo regra da Unesco – responderam ao questionário eletrônico enviado em 2010 pela Fipe.

Vendas a órgãos públicos

Os indícios do aquecimento do mercado se acumulam. Que o diga Luciana Villas-Boas, que, após 16 anos como diretora-editorial do Grupo Record, já colhe os frutos de sua nova empreitada, a agência literária Villas-Boas & Moss. Luciana comemora vendas de direitos de autores brasileiros, com “adiantamento de cinco algarismos em euros”, para editoras estrangeiras de peso, como a americana Simon & Schuster e a italiana Mondadori. “Pelo meu plano, meus primeiros clientes seriam agências e editoras estrangeiras, interessadas em me confiar suas listas para representação junto ao mercado brasileiro. Depois, viriam os autores brasileiros para o nosso próprio mercado. Somente em terceiro lugar, a representação de brasileiros no exterior”, diz Luciana. “A ordem de andamento dos negócios foi justamente ao contrário. Isso porque tanto o Brasil enquanto tema e ideia como o mercado brasileiro estão hoje muito aquecidos.”

Com uma taxa de leitura inferior até mesmo a de vizinhos sul-americanos – segundo pesquisa do Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe-Unesco (CERLALC), abaixo do Chile (com media de 5,4) e Argentina (com 4,6) –, o Brasil é, em tese, um imenso mercado potencial. O governo federal, por meio dos ministérios da Cultura e da Educação, mantêm o Programa Nacional do Livro e Leitura (PNLL), cujas ações englobam a implantação e modernização de bibliotecas e a criação de Pontos de Leitura. Mas são as compras públicas que mais esquentam o mercado nacional de livros.

“Não creio que os programas governamentais de apoio ao livro sejam fator determinante na evolução do mercado, mas as compras de literatura por parte de órgãos públicos para escolas, nos níveis federal, estadual e municipal, são cada dia mais importantes para a indústria”, diz Roberto Feith, diretor-geral da Objetiva e vice-presidente para Assuntos Administrativos do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel). “Na Objetiva, as vendas aos órgãos públicos representam entre 20% a 25% do total, dependendo do ano. Esse fator explica a intensa concorrência entre editoras pelos direitos de publicação dos autores clássicos da nossa literatura.”

Vendas online e livros digitais

Para Luciana, no entanto, o principal obstáculo a um desenvolvimento da indústria do livro no país é justamente o sistema educacional. “Ele vai contra a constituição de um público leitor condizente com a dimensão populacional. O que torna o momento mais favorável ao mercado editorial é a própria conjuntura econômica brasileira, com melhores índices de emprego e renda para a classe média.”

Feith também salienta que as tiragens de livros têm crescido de forma gradativa no Brasil, mas faz uma importante ressalva: “A pesquisa da Fipe mostra que o número de lançamentos cresce mais do que o número de exemplares vendidos. Isso caracteriza uma disputa maior por espaço no ponto de venda e a atenção do consumidor. E, para se fortalecer nessa disputa, as editoras tendem a aumentarem as tiragens. O problema é que esses aumentos de tiragem nem sempre se traduzem em vendas, o que leva à incidência cada vez maior de devoluções de grandes quantidades de cópias”, diz o editor. “Essas altas devoluções são uma característica dos mercados americano e europeu, que estão passando a ocorrer no mercado editorial brasileiro.”

As fusões e aquisições – como a recente compra de 45% das ações da Companhia das Letras, pelo grupo britânico Pearson –, o aparecimento de inúmeros eventos inspirados na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que comemora dez anos em julho, e a criação da Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que acontece entre 14 e 23 de abril, em Brasília, também apontam para o crescente interesse pelas letras e pelo leitor brasileiro. Outro sinal dessa movimentação é a entrada, ainda tímida, do gigante Amazon. Para livreiros como Samuel Seibel, ter uma loja que funciona como ponto de encontro e polo cultural, como sua Livraria da Vila, é um reforço diante da iminente concorrência da “pontocom” americana.

“Nosso estoque, nosso mix, nossos vendedores, a programação cultural, o programa de fidelidade, tudo é pensado no cliente e na convicção de que as pessoas querem e precisam sair, frequentar lugares, conhecer pessoas, sentir-se parte de um grupo”, afirma Seibel. “Porém é importante destacar que as vendas online são uma realidade da qual iremos fazer parte brevemente, assim como do mundo dos livros digitais.”

Atenção às tendências

Pedro Herz, cuja Livraria Cultura tem mais de uma dezena de lojas no país, trata a expectativa da concorrência com mais investimentos (“No Brasil, quem não cresce fecha”), não vê pela frente um boom com o segmento digital (“Novos e-readers não farão novos leitores”) e não fica tão otimista com a queda do preço médio do livro apontada pelo estudo da CBL/FIPE (34%, desde 2004). Ele ressalta que o potencial do mercado depende de mudanças culturais: “O Brasil é salgado. Comer, vestir, tudo é caro no país. Mas não é o preço do livro que inibe alguém de ler. A leitura é hábito feito em casa. Pais leitores fazem filhos leitores. De modo que o problema é cultural e não financeiro”, afirma o empresário.

Por conta do regime de consignação que domina o mercado, a aferição das vendas, de que resultam as listas de mais vendidos publicadas na imprensa, ainda é imprecisa. As lojas recebem os livros e só pagam pelas cópias que forem comercializadas ao cliente, devolvendo o excedente. De modo que pode haver discrepâncias entre o numero de títulos distribuídos e os efetivamente vendidos. Segundo Roberto Feith, o SNL está desenvolvendo, com uma empresa de pesquisa, um projeto para “a apuração precisa, em tempo real, no caixa das livrarias, das vendas de livro em todo o país”.

Mesmo imprecisas, as listas de mais vendidos continuam servindo de baliza para editores, quando autores ou gêneros, seja a auto-ajuda ou a recente moda das sagas infanto-juvenis, passam a encabeçar o ranking. “É fundamental para o profissional estar atento ao que acontece em sua indústria, e as listas são uma amostra importante do que as editoras estão produzindo com sucesso”, afirma Marcos Pereira, da Sextante, que na próxima segunda fala sobre mercado durante o Polo de Pensamento Contemporâneo, no Rio. “Nós tentamos prestar atenção nas tendências de mercado, mas sem nos afastarmos demasiadamente do nosso foco. Porém, exemplos como a história do Código Da Vinci, que nosso pai teve que nos convencer a publicar, ilustram como devemos, às vezes, nos arriscar em outras áreas.”

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[Eduardo Simões, do Valor Econômico]

Fonte: Observatório da Imprensa.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O LIVRO BOMBA.

O LIVRO “BOMBA”

No final de 2011 o Brasil foi surpreendido pelo lançamento do livro “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. No livro denuncia-se um grande esquema de corrupção, enriquecimento ilícito, transferência ilegal de dinheiro ao exterior e tráfico de influência. Tudo isso girando em torno do processo de privatizações desenvolvido no governo FHC. No centro do problema a figura de José Serra. O mesmo Serra que já foi candidato duas vezes à presidência da república pelo PSDB e ex-ministro da saúde do governo FHC. No livro esmiuça-se o papel dele no processo de privatização e denuncia-se (com farta documentação) amplo tráfico de influência para favorecimento pessoal, de sua família e de amigos próximos.

É mais um petardo contra as privatizações no Brasil. Ainda nos anos 90 o falecido jornalista Aloisio Biondi havia lançado o livro reportagem “O Brasil privatizado”, que teve boa repercussão e grande vendagem na época. “A privataria tucana” é um livro mais denso e mais embasado em documentação. Como já se sabe as privatizações não são bem vistas pelo povo. Lula tem ganhado eleições fazendo discurso anti-privatista e o caso da campanha em que ele enfrentou Alckimim foi um sinal claro: o candidato do PSDB em 2006 teve menos votos no segundo turno do que no primeiro e isso aconteceu porque Lula lembrou ao eleitorado as privatizações feitas pelo PSDB.

O problema do livro não está apenas em seu conteúdo, mas na repercussão dele ou, mais precisamente, na insistência da grande mídia em não querer discuti-lo. Durante os últimos cinco ou seis meses ele é um dos temas mais discutidos nas redes sociais, mas no Jornal Nacional (e seus genéricos de outras emissoras) ele não existe. Também se instaurou na Folha, no Estadão e em O Globo um silêncio tumular. Das revistas semanais apenas a Carta Capital fez reportagens sobre o assunto. O termo PIG (Partido da Imprensa Golpista), criado por jornalistas e blogueiros que apoiam o governo, foi fortalecido. É bom lembrar que mesmo com todo esse silêncio o livro vende muito bem. Os primeiros quinze mil exemplares sumiram das prateleiras em poucos dias.

Mas qual o motivo deste silêncio? Blindar José Serra seria a resposta mais imediata. É uma resposta verdadeira , mas não mostra toda a verdade. O PSDB tem outros quadros, como Alckimim e Aécio, que podem substituí-lo. O problema está na defesa das privatizações. Elas fizeram parte de um processo amplo de abertura da economia e tiveram apoio massivo da grande mídia. Toda a elite brasileira abraçou a ideologia da Globalização e iludiu-se com a suposta abertura dos mercados. Acreditou que diminuir o Estado com as privatizações faria o Brasil dar um salto tecnológico e produtivo. Ninguém se lembrou de redistribuir renda ou investir na educação e saúde públicas, ninguém se importou se esse processo geraria desemprego, mas toda a elite achava que o Brasil iria ao paraiso comandado pelo PSDB. O resultado de tudo isso foi decepção do povo e vitórias do PT.

A elite brasileira e a mídia comandada por ela irão fazer autocrítica das privatizações? Claro que não. Há poucos meses atrás a revista Época fez uma reportagem patética sobre “privatizações que faltam fazer”. E o PT? Os petistas adoraram o livro de Amauri, mas Dilma já anunciou a privatização dos aeroportos. O PT e seus aliados possuem força política suficiente para abrir uma CPI da privataria, mas onde está ela? E se o PT é realmente contra as privatizações porque não as reverteu? O livro de Amauri veio em boa hora. Ajudará a quem o ler a compreender as contradições tanto do PSDB como do PT, de quebra reforçará no povo a consciência de que a elite brasileira está preocupada com seu bolso e não com um projeto de nação independente. As privatizações feitas foram um engodo e as que virão também serão. Ler este livro ajudará a abrir nossos olhos.

Aristóteles Lima Santana, 29/03/2012.