quinta-feira, 5 de abril de 2012

O LIVRO BOMBA.

O LIVRO “BOMBA”

No final de 2011 o Brasil foi surpreendido pelo lançamento do livro “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. No livro denuncia-se um grande esquema de corrupção, enriquecimento ilícito, transferência ilegal de dinheiro ao exterior e tráfico de influência. Tudo isso girando em torno do processo de privatizações desenvolvido no governo FHC. No centro do problema a figura de José Serra. O mesmo Serra que já foi candidato duas vezes à presidência da república pelo PSDB e ex-ministro da saúde do governo FHC. No livro esmiuça-se o papel dele no processo de privatização e denuncia-se (com farta documentação) amplo tráfico de influência para favorecimento pessoal, de sua família e de amigos próximos.

É mais um petardo contra as privatizações no Brasil. Ainda nos anos 90 o falecido jornalista Aloisio Biondi havia lançado o livro reportagem “O Brasil privatizado”, que teve boa repercussão e grande vendagem na época. “A privataria tucana” é um livro mais denso e mais embasado em documentação. Como já se sabe as privatizações não são bem vistas pelo povo. Lula tem ganhado eleições fazendo discurso anti-privatista e o caso da campanha em que ele enfrentou Alckimim foi um sinal claro: o candidato do PSDB em 2006 teve menos votos no segundo turno do que no primeiro e isso aconteceu porque Lula lembrou ao eleitorado as privatizações feitas pelo PSDB.

O problema do livro não está apenas em seu conteúdo, mas na repercussão dele ou, mais precisamente, na insistência da grande mídia em não querer discuti-lo. Durante os últimos cinco ou seis meses ele é um dos temas mais discutidos nas redes sociais, mas no Jornal Nacional (e seus genéricos de outras emissoras) ele não existe. Também se instaurou na Folha, no Estadão e em O Globo um silêncio tumular. Das revistas semanais apenas a Carta Capital fez reportagens sobre o assunto. O termo PIG (Partido da Imprensa Golpista), criado por jornalistas e blogueiros que apoiam o governo, foi fortalecido. É bom lembrar que mesmo com todo esse silêncio o livro vende muito bem. Os primeiros quinze mil exemplares sumiram das prateleiras em poucos dias.

Mas qual o motivo deste silêncio? Blindar José Serra seria a resposta mais imediata. É uma resposta verdadeira , mas não mostra toda a verdade. O PSDB tem outros quadros, como Alckimim e Aécio, que podem substituí-lo. O problema está na defesa das privatizações. Elas fizeram parte de um processo amplo de abertura da economia e tiveram apoio massivo da grande mídia. Toda a elite brasileira abraçou a ideologia da Globalização e iludiu-se com a suposta abertura dos mercados. Acreditou que diminuir o Estado com as privatizações faria o Brasil dar um salto tecnológico e produtivo. Ninguém se lembrou de redistribuir renda ou investir na educação e saúde públicas, ninguém se importou se esse processo geraria desemprego, mas toda a elite achava que o Brasil iria ao paraiso comandado pelo PSDB. O resultado de tudo isso foi decepção do povo e vitórias do PT.

A elite brasileira e a mídia comandada por ela irão fazer autocrítica das privatizações? Claro que não. Há poucos meses atrás a revista Época fez uma reportagem patética sobre “privatizações que faltam fazer”. E o PT? Os petistas adoraram o livro de Amauri, mas Dilma já anunciou a privatização dos aeroportos. O PT e seus aliados possuem força política suficiente para abrir uma CPI da privataria, mas onde está ela? E se o PT é realmente contra as privatizações porque não as reverteu? O livro de Amauri veio em boa hora. Ajudará a quem o ler a compreender as contradições tanto do PSDB como do PT, de quebra reforçará no povo a consciência de que a elite brasileira está preocupada com seu bolso e não com um projeto de nação independente. As privatizações feitas foram um engodo e as que virão também serão. Ler este livro ajudará a abrir nossos olhos.

Aristóteles Lima Santana, 29/03/2012.

Um comentário:

waldilinux disse...

Muito bom o texto, caro Aristóteles!

Creio poder deduzir dele uma conclusão que a sociedade brasileira já deveria conceber como óbvia: que a dualidade Pt-Psdb precisa ser superada. A antiga política "café com leite", que alternou durante anos os destinos do paí entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais é um exemplo dos perigos da alternância de poder, seja baseada em Estados seja fundamentada em ideologias. Caso não consigamos suplantar essa dualidade, tenderemos a implantar aqui algo como a monótona democracia norte-americana, secularmente dividida entre democratas e republicanos. O Brasil (como os EUA) é algo muito diverso e vasto para ter seus problemas equacionados entre apenas duas variáveis.

Grande abraço.