sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A INTERNET E O FIM DA PRIVACIDADE



A INTERNET E O FIM DA PRIVACIDADE
O que é público e o que é privado nos dias de hoje? A sua sexualidade é privada? Tem certeza? Certo, você não comenta sobre ela no Facebook ou Twitter, mas o que garante que o seu (sua) parceiro (a) não o fará? Você fala mal do seu chefe em privado? Um simples celular pode filmar sua fala e expô-la no Youtube. Qualquer ato ou fala sua pode ser gravada e reproduzida por meios eletrônicos hoje. Um dos temas mais discutidos nos dias que correm é sobre o fim da privacidade com a internet. Vivenciamos o auge da sociedade do espetáculo. Tudo pode ser filmado, gravado, fotografado e colocado no Twitter, Facebook ou Youtube. O mais interessante disso é que o fenômeno não está sendo feito apenas pelo “Estado opressor e invasor da privacidade alheia” mas pelos próprios indivíduos com seus semelhantes e consigo mesmos. Na verdade as redes sociais são “vitrines vivas” onde a intimidade dos outros ou do próprio indivíduo é escancarada, em alguns casos chegando a extremos ridículos.
Esta discussão às vezes fica complicada quando alguém interpelado sobre o assunto declara em alto e bom som: “ninguém pode impedir minha individualidade, vou postar o que quiser no Facebook”. Certo, desde que você não reclame dos comentários. Se uma informação torna-se pública significa que o público pode manifestar-se sobre ela. E, claro, estamos falando também da invasão da privacidade dos outros.
Com tantos recursos tecnológicos visuais facilmente encontráveis e manipuláveis a possibilidade de que sua vida possa ser invadida e exposta em público aumentou consideravelmente. Ao se criar uma nova tecnologia modificam-se certos hábitos culturais. Não há dúvidas de que o voyeurismo e o narcisismo tornaram-se fenômenos de massa na internet.
Mas por que este debate é tão importante? Bem, os exemplos que temos de fim da privacidade proveem, tanto em termos práticos como literários, do totalitarismo. As ditaduras totalitárias que conhecemos limitaram a privacidade de seus cidadãos. A vigilância do Estado cercou o indivíduo a ponto de sua vida privada ser constantemente vigiada. A delação foi estimulada. Não há dúvidas de que Hitler, Stálin e Mussolini adorariam o Youtube e os celulares com capacidade para filmar e fotografar. Em “Farenheit 451” Ray Bradbury narra a vida de cidadãos proibidos de ter ou ler livros em sua própria casa e todos são estimulados a delatar os desobedientes; em “1984” o célebre George Orwell antecipa a atual mania paranoica das câmaras de vigilância, inclusive dentro das residências particulares, com o intuito de vigiar o comportamento dos cidadãos; em “Nós”, escrito ainda nos anos 20 do século passado pelo russo Zamiátin, todas as casas do futuro são descritas como sendo de vidro transparente. Assim a polícia e todo mundo fica sabendo o que se passa no interior delas. O fim total da privacidade.
Você pode argumentar que os regimes totalitários e as ditaduras são casos específicos e que vivemos em uma democracia. Claro que vivemos. Por enquanto. Mas quem disse que ela durará para sempre? A história e a luta de classes são dinâmicas e novas ondas autoritárias poderão vir no futuro. Uma nova ditadura que porventura venha a existir no futuro adorará toda esta parafernália eletrônica e a utilização delas para a vigilância e a delação. O pior de tudo é que a atitude corrente de quebrar a nossa privacidade e a dos outros tornará a população apta a aceitar de bom grado, em virtude do costume e do discurso da “segurança”, este tipo de prática. O fim da privacidade é a ascensão da delação. A próxima ditadura vai amar isso.
Aristóteles Lima Santana, 15/11/2013.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O FATOR MARINA SILVA



O FATOR MARINA SILVA
Marina Silva filiou-se ao PSB de Eduardo Campos. Para muitos ela será a vice na chapa para presidente da república, com Campos na cabeça. Como se sabe Marina tentou registrar um partido, o Rede Sustentabilidade, que reunia elementos diversos da esquerda, direita e centro. Tanta diversidade fez Marina repetir a famosa frase de Kassab: “nosso partido nem será de direita, nem de esquerda e nem de centro”. Além disso, ela foi adiante e afirmou que  a Rede era uma forma diferente de  se fazer política. Só não explicou como fazer isso tendo apoio de políticos profissionais...
A história de Marina confunde-se com a do PT, principalmente no Acre. Ela fez parte das bases do grupo de Chico Mendes, um destacado herói defensor da selva amazônica e dos trabalhadores seringueiros. Ele foi assassinado de forma bárbara e sua fama , que já era internacional, aumentou consideravelmente. Marina Silva é sua grande herdeira política. Já foi senadora, ministra do governo Lula e candidata à presidência da república em 2010, sendo muito bem votada.
O bom desempenho eleitoral de Marina em 2010 fez dela uma carta especial no baralho das eleições em 2014. Ela pode forçar um segundo turno (como em 2010), mas pode, inclusive, tirar o PSDB do segundo turno. No caso da aliança com Campos, ela torna a candidatura do PSB competitiva. Como Dilma está bem nas pesquisas, o PSDB tem que se preocupar.
A aliança entre Marina e Eduardo Campos tem alguns problemas. Ela é defensora de políticas de sustentabilidade ambiental, o que se costuma chamar de Desenvolvimento Sustentável. Isso quer dizer impor limites, ou mesmo impedir, obras públicas como hidrelétricas e outros tipos de usinas, como a nuclear. Já Eduardo Campos é um defensor do desenvolvimentismo (tal como Lula e Dilma). Como eles chegaram a um consenso sobre essa aliança ainda é um mistério.
Um outro problema em Marina é sua filiação ao fundamentalismo religioso evangélico. Ela teve até a infeliz ideia de se solidarizar com Marco Feliciano quando ele se viu cercado de críticas. O PSB é um partido laico e em seu programa consta a defesa do Estado laico. Se laicismo e fanatismo religioso são dois polos opostos como é que eles chegaram a um acordo sobre esse tema?
Marina foi candidata em 2010 pelo PV (Partido Verde), posteriormente ela puxa, junto com lideranças de vários partidos, o Rede Sustentabilidade que, em suas palavras, seria “uma nova forma de se fazer política”. Nunca ficou muito claro o que seria essa nova forma. Vários políticos tradicionais, da direita, esquerda e centro estão com ela. Velhas raposas da política a apoiam. O pior de tudo é que o Rede teria que se registrar como partido político, ou seja, a “novidade” teria que usar um traje tradicional. Não conseguiram o número mínimo para registrar o partido. É bom lembrar que o PSOL teve que passar pelo mesmo processo e conseguiu. Já a “grande novidade” de Marina não conseguiu passar pelo primeiro teste. Melhor para o PSB.
Aristóteles Lima Santana, 15/10/2013.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

INTERNET : A TERRA SEM LEI



INTERNET: A TERRA SEM LEI
O que é o “Universo paralelo”? Um lugar onde tudo é possível? Onde todas as regras podem ser quebradas? Onde posso ser e ter o que desejo? Parece que a internet é atraente para as massas porque em parte ela satisfaz a ilusão de conseguir viver em um mundo paralelo. Com o recurso do “photoshop” é possível apresentar-se com mais beleza do que aquela que se possui; com frases e posts bem escritos pode-se ser mais cortês e educado, talvez até mais sábio, do que se é; a menina (ou garoto) que não fica com ninguém em festas pode subitamente tornar-se popular com seus mil amigos no facebook.  O artificialismo parece que será um companheiro constante nesta época em que vivemos: rapazes tomam drogas para acelerar a construção da musculatura na academia; marketeiros mudam a imagem dos políticos tornando-os mais artificiais do que já eram; o “photoshop” faz milagres nas fotos e é largamente utilizado nas redes sociais, etc. Com toda esta valorização da artificialidade não é de se estranhar que a internet se torne uma febre. Ao apresentar-se como “mundo paralelo” ela permite a ilusão de ser outra pessoa e de ter outra vida.
Mas não apenas isso. A internet também libera monstros razoavelmente ocultos dentro de nós. A agressividade racista, homofóbica e machista se faz presente de forma ostensiva neste novo universo. Aquilo que não é falado no bar, na rua ou em casa (lugares reais) pode ser dito no mundo artificial paralelo. O rapaz, ou moça, homossexual libera suas fantasias, recalcadas na vida real, no twitter ou facebook. O homofóbico também libera seu ódio, reprimido no mundo real, contra eles nas mesmas instâncias. Liberar ódios reprimidos tornou-se uma mania nas redes sociais. E isso terá (tem) consequências na sociabilidade dos indivíduos. A tentação de fazer na vida real aquilo que se faz na vida paralela será sempre constante.
A internet parece que realiza um antigo desejo humano: encontrar um “não-lugar” (outro nome para Universo paralelo) onde tudo será possível. Todas as fantasias sexuais, inclusive as mais bizarras, serão realizadas; todos serão belos e felizes e todos notarão a sua presença no mundo. Sobre este último item é preciso afirmar que a privacidade é um crime nas redes sociais. Ser visto e ser notado é uma obrigação para o indivíduo. Uma nova (ou em novo formato) paranoia de massas.
Mas você leitor deve estar se perguntando: o que há de errado em realizar fantasias sexuais? O que há de errado em querer ser mais belo e feliz? O que há de errado em querer ser popular? Vamos por partes. Não há problema nenhum em realizar uma fantasia sexual desde que a parceira (ou parceiro) esteja de comum acordo. Nunca se esqueça que o estupro também é uma fantasia sexual, sem falar em outras bizarrices mais absurdas... Não há nada de errado em querer ser mais belo, feliz ou popular, desde que isso não se torne uma obsessão paranoica. Nunca se esqueça que existem pessoas que se sentem felizes ao humilhar outras e que matar alguém relativamente famoso é uma forma prática de conseguir popularidade. Além do mais o que o mundo paralelo da internet oferece não é a realização da fantasia, mas a ilusão dela. Todas as pessoas que usam o “photoshop” terão que se apresentar em seu formato real nas festas e eventos públicos... Também o excesso de padronização da beleza e da felicidade excluem todos os que não estão dentro dos padrões.
 O mundo paralelo não é distante de nós. Ele é, ao mesmo tempo, projeção de nossos medos e desejos interiores e realização prática tecnológica deles. Ele invade o mundo real com força e violência e modifica nossa sociabilidade. A explosão do problema do bulling nada mais é do que a extensão real desta padronização e do cruzamento entre os dois mundos.
Sexo, drogas, rivalidades políticas ou futebolísticas, não importa o tema, a internet é uma terra sem lei, ou aparenta ser assim. Um mundo paralelo onde tudo, ou quase tudo, pode ser permitido. Onde ódios, frustrações, fantasias bizarras e insanidades podem ser liberadas, onde um mundo artificial de felicidade e beleza pode ser construído, onde um “eu” falso pode substituir um “eu” verdadeiro. Onde a fantasia pode, ao menos temporariamente, substituir a realidade. Mas, cuidado. Tudo tem o seu preço. Não se pode viver imerso na fantasia sem as consequências na realidade.
Aristóteles Lima Santana, 09/09/2013.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

IMPRESSORA 3D




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Me imprime um x-salada?
Por Luli Radfahrer em 27/08/2013 na edição 761
Reproduzido da Folha de S.Paulo, 26/8/2013; intertítulo do OI
http://observatoriodaimprensa.com.br/images/botao-impressao.pnghttp://observatoriodaimprensa.com.br/images/botao-enviar-por-email.png
A nova revolução tecnológica já chegou. Ela não é um telefone, TV, óculos ou carro elétrico sem piloto. Apple e Samsung ainda não se apropriaram do seu mercado, capitalistas ainda não torram fortunas em iniciativas na área. Mas isso deve mudar, já que a nova tecnologia tornará obsoletos boa parte dos processos industriais conhecidos.
Ela é a impressão tridimensional. Aos olhos de hoje não parece grande coisa, na forma de maquininhas rudimentares imprimindo bonequinhos e chaveiros. O processo, lento e impreciso, não empolga mais do que alguns nerds ortodoxos.
No entanto, basta uma pequena comparação histórica para se perceber que o mesmo aconteceu com a microinformática. Seriam as impressoras de hoje equivalentes às velhas matriciais?
Sim e não. A impressão 3D tem tudo para ser um negócio gigantesco. Usando materiais tão diversos quanto plástico, cera, resina, papel, vidro, tecidos ou metais, a tecnologia converte algoritmos em objetos, com a mesma facilidade que hoje se imprime uma página de texto.
O que vem pela frente
O processo é razoavelmente simples. Imagens criadas a partir de programas de ilustração ou digitalizadas em três dimensões são interpretadas por um PC e convertidas em instruções para que a máquina construa objetos camada a camada, em um processo similar ao da impressão linha a linha.
Como na impressão bidimensional, essa tecnologia tende a criar três camadas de serviços. Em casa, máquinas baratas e imprecisas poderão fazer protótipos de todos os tipos. Pequenas empresas produzirão objetos em menor escala com qualidade bem razoável. Em hangares industriais, máquinas de precisão serão capazes de imprimir automóveis ou casas, com personalização e detalhe não imaginados. De posse do algoritmo e das matérias-primas certas, pode-se imprimir praticamente qualquer coisa, de próteses dentárias a armas.
Para facilitar a modelagem, empresas como a AutoDesk, criadora do popular AutoCad, disponibilizou um aplicativo que permite a qualquer pessoa criar um modelo 3D a partir de fotografias tiradas com um smartphone. O conjunto de fotos é enviado pela rede para os servidores da empresa, que deduzem a partir delas o tamanho e formato do objeto a digitalizar. Simples assim.
Se até um conjunto de fotos de smartphone pode gerar modelos para impressão, o que dizer de imagens e impressoras mais detalhadas? Médicos têm usado equipamentos 3D para criar próteses a partir de tomografias. Alguns pesquisadores tentam usar a tecnologia para, a partir de células vivas, “imprimir” músculos e cartilagens. Outros desenvolvem protótipos do que poderão ser impressoras de DNA.
As novas ideias desafiam a imaginação. Uma empresa de engenharia tenta criar uma impressora de pizzas, para que astronautas possam ter uma alimentação variada. Se der certo, a padaria da esquina pode ser capaz de imprimir lanches.
As invenções de alguns pioneiros já dão uma boa ideia das mudanças que podem ocorrer em um futuro próximo. Máquinas como essas podem redefinir completamente o processo industrial, de logística e até a exploração de recursos, transformando lixões, aterros e desmanches em novas minas de ouro.
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Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP e colunista da Folha de S.Paulo; mantém o blog www.luli.com.br

Fonte: Observatório da imprensa.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

AS MANIFESTAÇÕES E SEUS SIGNIFICADOS



AS MANIFESTAÇÕES E SEUS SIGNIFICADOS
O Brasil foi sacudido nas últimas semanas por passeatas e manifestações gigantescas como há muito não víamos. Assim como há muito tempo não presenciávamos um nível de repressão policial tão brutal. Algumas das cenas lembraram a ditadura militar. A mídia até tentou plantar a informação de que a repressão atingia apenas “vândalos irresponsáveis”. Reportagens e a divulgação de informações nas redes sociais comprovaram que a repressão brutal atingiu não só os supostos “vândalos” mas a todos os participantes, incluindo alguns dos mais pacíficos. É claro que pessoas irresponsáveis realmente se aproveitaram da situação, algumas inclusive para praticar assaltos, mas a repressão não caiu apenas sobre eles e, estranhamente, alguns deles foram deixados livres em suas ações enquanto a PM espancava manifestantes pacíficos. Quem tem idade e boa memória deve se lembrar das mobilizações populares do “Fora Collor”, em 1992, e das “Diretas já”, em 1984, em ambos o nível de mobilização popular (para quem não está informado o “gigante” já acordou várias vezes) foi muito alto e não se viu a repressão brutal que vimos neste episódio.
Qual o significado real destas mobilizações? Seu caráter foi de uma heterogeneidade absoluta. O que vimos foi a explosão de uma série de demandas populares não satisfeitas nem pelo PT e nem pelo PSDB. São dezoito anos de governos destes dois partidos (oito com o PSDB de FHC e dez com Lula e Dilma do PT) e a educação e a saúde públicas continuam com o mesmo déficit de qualidade. O transporte público (que não é público, você paga) piorou o serviço mas continuou a aumentar a tarifa e os sucessivos casos de corrupção divulgados na mídia desgastaram os partidos e políticos em geral. Estas reivindicações (melhorias na saúde e educação públicas, diminuição das tarifas do transporte e combate à corrupção) não autorizam ninguém a classificar o movimento como sendo de “direita”, como muitos petistas sairam divulgando por ai. É claro que grupos minoritários de direita se infiltraram nas manifestações, mas são minorias inexpressivas. Os grupos de extrema direita foram todos (junto com a extrema esquerda)pegos de surpresa com as mobilizações. As pesquisas de opinião feitas recentemente demonstraram queda da popularidade de Dilma, mas o mesmo aconteceu com Alckmim. Os governos do PSDB foram extremamente truculentos com os manifestantes em São Paulo, Minas e Paraná. E os governos estaduais do PT não ficaram atrás, Dilma deve agradecer a vaia que recebeu na abertura da copa das confederações ao seu colega de partido, o governador do DF que, horas antes do público entrar no estádio, mandou a PM agir com brutalidade contra os manifestantes, tendo o público que entraria no estádio como testemunha da repressão...
Mas o pior é que a heterogeneidade do movimento deixou nas redes sociais um rastro de interpretações confusas e que não ajudam a entender o que aconteceu. Houve quem dissesse que o movimento era “manipulado pela Globo”, ou pela mídia em geral e, no entanto, vários símbolos da mídia televisiva foram atacados pelo povo, às vezes de forma violenta. No início a direita saiu dizendo que as passeatas eram “coisa do PT” e, posteriormente, os petistas sairam dizendo que as mesmas manifestações eram um “sinal de golpe da direita”. Funcionou muito mais a paranoia do que a razão para entender o fenômeno.
Também as manifestações não tiveram caráter fascista, como muitos vislumbraram. A reação negativa aos partidos por uma parte das massas se deve muito mais ao desgaste óbvio deles  do que a um desejo de que um ditador venha resolver o problema. Não há nenhum partido fascista de massas organizado no Brasil, só grupelhos inexpressivos. A violência de algumas manifestações se deve a grupos minoritários: infiltrados pela polícia, para abrir espaço para a repressão; anarquistas radicais e, claro, fascistas também. Todos compõem uma minoria em todas as manifestações.
Mas uma característica pode explicar a repressão policial: a crítica que as massas fizeram à organização da Copa do mundo em 2014 e ao derrame de dinheiro para a construção de estádios de futebol. A população desconfia que estas obras são superfaturadas e que existe um montante de corrupção por trás destas construções. Para as massas seria mais útil se o governo investisse mais em saúde e educação públicas. A FIFA contribuiu muito para o mal estar da população com a Copa: exigiu, e conseguiu, um estatuto especial com regras restritivas para a própria população brasileira. A Copa será apenas um bom negócio para as empreiteiras e a FIFA, esta é a visão predominante hoje entre o povo. Mas para a mídia, que cobrirá a Copa, e para o governo, que quer ganhar dividendos políticos e o apoio das empreiteiras para seu tradicional “caixa 2”, a Copa é uma questão de honra. Quem prestou atenção viu que a repressão policial foimais forte nas cidades com estádios e nas imediações deles. Se a FIFA pedir ao governo o Estado de Sítio durante a Copa não duvidem que seu desejo será atendido. A repressão policial que vimos nas últimas semanas foi o “ensaio geral” para esta eventualidade...
A partir de agora não devemos mais subestimar o papel das redes sociais. Foram elas, e não a grande mídia, que mobilizaram a população. Um fenômeno já comum em vários países. A partir de agora os governos, partidos, a mídia, terão que dialogar e, em alguns casos, enfrentar as articulações nas redes sociais. Elas se tornaram o grande agente de mobilização de massas da época presente. Com todos os seus méritos e deméritos não podemos ignorá-las ou subestimá-las, sob o risco de perdermos o bonde da história.
Aristóteles Lima Santana, 14/07/2013.