sábado, 29 de outubro de 2016

A OCUPAÇÃO ESTUDANTIL DO IFBA EM PAULO AFONSO

A OCUPAÇÃO ESTUDANTIL DO IFBA EM PAULO AFONSO
Seguindo a atual onda de ocupações estudantis em protesto contra a PEC 241, os estudantes  do IFBA ocuparam a unidade de Paulo Afonso. No dia dezoito de outubro uma grande assembleia convocada pelo grêmio local reuniu a maior parte dos estudantes e eles aprovaram a ocupação. A decisão da assembleia foi precedida por paralizações anteriores  e debates sobre a educação no país. Entre eles a consciência da necessidade de combater a PEC 241 é alta. A ocupação é acompanhada por debates constantes, palestras e oficinas, o que anula as calúnias dirigidas pela direita nas redes sociais sobre a suposta falta de preparo destes alunos para debater um assunto tão importante. Eles estão, inclusive, debatendo (e recusando) a reforma do ensino médio claramente influenciada pelo movimento direitista “escola sem partido”. Na conversa que tive com os alunos do IFBA deu para perceber como as calúnias dirigidas contra eles subestimam sua capacidade de entendimento e mobilização. Em Paulo Afonso temos uma amostra de como isso acontece no resto do país. Essa onda de ocupações, que tem hoje o Paraná como seu centro mais impactante, já foi precedida por outra em São Paulo. O golpe já foi dado, uma nova direita cresceu, mas o jogo ainda não acabou. Ressurge hoje um novo movimento estudantil de massas.
Apartidário e preocupado com os rumos da educação no país; preocupado com sua formação técnica, mas também com sua formação humanista; antenado com problemas do presente, mas querendo evitar um futuro tenebroso, este talvez seja o melhor retrato do estudante que hoje ocupa escolas em nosso país. Eles estão conscientes de que as reformas propostas por Temer vão na contramão de qualquer projeto de nação desenvolvida.
Contra o movimento de ocupações hoje tem a grande mídia, a militância direitista nas redes sociais e a organização MBL (Movimento Brasil Livre). Grupo de extrema direita que nesta semana entrou em conflito físico com estudantes no Paraná. O MBL  corresponde hoje ao que foi o CCC (Comando de caça aos comunistas) nos anos 60 e o que foi a AIB (Ação integralista brasileira) nos anos 30. Mudou-se a sigla e a época, mas o papel político é o mesmo: o de milícia fascista para combater os movimentos sociais.  Em épocas de confronto social e crise política as milícias fascistas são auxiliares indiretos da repressão do Estado. Podem, inclusive, partir para ações criminosas.
Alguns argumentos medíocres são usados para combater as ocupações. Um deles diz respeito ao direito dos estudantes que não participam das manifestações de poderem estudar. Esquecem que escola não é só formação profissional. A escola reproduz dentro de seus muros as contradições da sociedade. Os conflitos, os preconceitos, os debates intelectuais, técnicos, políticos, etc. Em momentos históricos em que a sociedade ferve em conflitos a escola não fica de fora. Seja puxado por alunos ou professores (ou ambos), a escola acaba se tornando um dos palcos, às vezes o principal, das disputas sociais. A consciência política não é igual em todos os cidadãos e não seria diferente entre os estudantes. Mas as ocupações estão sendo feitas onde existem assembleias em que a maioria dos estudantes estão presentes e aprovam o ato de ocupação. A decisão é democrática e quem é contra é livre para manifestar-se. Não há nada de autoritário nisso, até muito pelo contrário.
Na Bahia , até o presente momento, existem ocupações em Valença, Vitória da Conquista, Eunápolis, Irecê, Ilhéus e Paulo Afonso. Ainda é um movimento em desenvolvimento, mas já é uma luz no meio de tanta subserviência ao golpe. A PEC 241 já foi aprovada na Câmara e o direito de greve dos servidores públicos foi cassado pelo STF. Os golpistas triunfantes estavam seguros de que haveria pouca resistência. Foram pegos de surpresa pelos estudantes.

Aristóteles Lima Santana, 29/10/2016.